terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Caminho


O Caminho

Acordei cedo como sempre, peguei meu casaco e fui dar uma volta, quando sai comecei a sentir fome e comecei a procurar um lugar para tomar café da manhã, entrei em uma porta aleatória e perguntei onde seria um bom lugar para tomar café, ele me respondeu que eles serviam café no andar de cima, resolvi subir. No caminho eu vi a cozinha, um lugar cheio de gente, pouco limpo e quase nada confiável, mas como eu já sabia que todos os lugares aqui são assim, resolvi comer por lá mesmo. Fiquei lá um bom tempo, pensando na vida, a vista era incrível, dava pra ver todo o vale eu estava no terceiro andar de um prédio q ficava numa colina. Chegaram as torradas e o meu chá quente, eu estava muito feliz de estar lá.
Voltei para o hotel e fui fazer o treaking, Femi o anão já não aguentava mais e resolveu ficar no hotel assistindo televisão. O dono me levou para a estação de ônibus que era um verdadeiro caos, um monte de gente falando ao mesmo tempo, lixo no chão e vendedores entrando e saindo. Depois de entrar duas vezes no ônibus errado, ele perguntou para um outro local e finalmente entramos no ônibus certo.
No ônibus começamos a conversar, ele estava preocupado porque aqui na Índia os filhos deveriam ajudar os país depois de velhos, e ele não estaria em forma para sempre para realizar esses passeios. Eu respondi que ele deveria então fazer o seu hotel virar seu principal negócio, e não os passeios, ele me perguntou como e eu respondi que quando chegássemos a cidade eu compraria um Kotler para ele.
Na hora de descer eu quase que não acreditei, era um lugar localizado exatamente no meio do nada! Entramos por uma pequena trilha na floresta. Era estranho que todas as árvores eram iguais e divididas, metade da montanha era de pinheiros e a outra era uma outra que eu não sei o nome, depois de pensar um pouco eu reparei que elas eram divididas pelo Sol e pela sombra.
Começamos a andar e eu a pensar em quanto que eu deveria pagar ao guia: ele não quis cobrar nada eu pensei que 500 rupias era um bom preço (R$19), mas ele começou a pagar tudo, o pinico, as passagens, a água, tudo! Pronto, como o professor de marketing falou: perdi a noção do preço e fiquei propenso a pagar mais. Ps: aqui o dinheiro é supervalorizado (o hotel para 2 pessoas foi 11 reais)
Depois de umas 2h de caminhada chegamos a um lugar lindo, paramos e começamos a comer umas guloseimas, beber um pouco de água e conversar, ele me explicou que as meninas no sul eram mais liberais e que algumas garotas aqui ficavam sim com estrangeiros! Fiquei muito feliz em escutar isso, mas ainda assim não tinha certeza se e acreditava, uma vez que o eslovaco da minha casa me disse que aqui nem namorar eles namoram.
Depois disso continuamos a caminhada no meio da floresta, eu já estava ficando assustado com o preparo físico dele, agente estava indo num ritmo até que forte e ele não parecia ceder. Ao chegar no topo tiramos algumas fotos e fomos até um templo. Lá dentro dava pra ver todo o vale nos quatro cantos do templo, era cheio de macacos e só podia entrar quem estava descalço. Ficamos um tempo descansando num banco e vimos uma mulher e uma criança sendo atacada por dois macacos que roubaram sua comida, um macaco também tenteou nos atacar mas ele viu antes e ameaçou a jogar uma pedra neles, resolvemos sair.
Na volta vimos umas raças diferentes de macaco, um macaco branco e outro muito maior que os normais. Quando paramos ele começou a falar sobre casamento gay e eu respondi que quase não tinha gays no brasil porque quase todo mundo era preconceituoso, ele ficou quieto e continuamos a caminhada.
Chegando na estrada novamente tomamos um chá e ele me contou de um casal da Austrália que ficou viajando com ele por um mês, eles ficaram tão agradecidos que começaram a enviar dinheiro constantemente, com isso ele pretendia terminar a faculdade.
Pegamos um ônibus lotado e por sorte conseguimos um lugar. Após um tempo entrou um senhor que mal conseguia andar, sem exitar levantei e sedi o meu lugar, todos olhavam para mim indignados! Sem entender muita coisa resolvi perguntar se o que eu fiz era errado, o guia me respondeu que não era comum, fiquei feliz porem dolorido com a minha ação: depois de um tempo eu já tinha que quase me pendurar para obter meu próprio espaço no ônibus.
Voltamos ao hotel e lá estava Femi assistindo televisão, ao me ver seus olhos brilharam e sua boca pronunciou a frase da vitória: vamos voltar para casa? Eu acho que para alguém que não tem ocostume de viajar aquilo tinha sido muito pesado para ele. Entramos no 6onibus e depois de duas pequenas batidas, uma noite acordado, 13 horas e um coração um pouco mais cansado chegamos em Jalandar.
No caminho fiz alguns amigos ao aceitar beber um gole de uma “vodca” (de péssima qualidade), eles me ajudaram muito ao chegar na cidade pois os condutores de auto-ricshard não falam inglês. Eles começaram a traduzir, o motorista queria 500 rupias para me levar (o preço deveria ser 50), eu disse que não e ele rapidamente falou: ok! Posso voltar a dormir... Sem saber o que fazer entrei e falei 400, ele concordou e um dos maiores erros da viagem já estava feito.
Depois de meia hora cheguei a conclusão de que ele estava perdido, pedi para parar num bunker. A dentro havia um soldado que falava em inglês, o problema era que ele não fazia ideia onde era a Rua Solphipin, o meu destino. Depois de 3 horas andando por ai eu encontrei uma alma boa que tinha um celular, ele ligou para a minha casa e Jedip (o dono da casa) veio me buscar de moto. Estava 500 rupias mais pobre porem feliz: finalmente cheguei.

Deus ajuda quem cedo madruga

Fui dormir as 9h da noite, estava cansado como sempre por causa do


fuso, mas antes de dormir perguntei para o eslovaco que estava do meu


lado sobre onde seria um bom lugar para visitar no dia seguinte, ele


rapidamente pegou um papel e começou a escrever e me mostrou três


viagens diferentes.


Jian, o eslovaco era uma pessoa muito diferente, mais quieta e reservada, ele já estava lá a quase um ano, era alto, loiro e tinha olhos azuis; era


um perfeito turista. Quando eu o vi pela primeira vez ele foi


extremamente receptivo e falava muito, com o tempo dava pra ver que


ele já estava cansado da vida na Índia. Um dia descobri que ele


já tinha trabalhado numa cidade perto de Granada na Espanha (a qual eu


fui fazer um intercambio) e que ele também, entre as suas muitas


viagens, tinha ido ao Nepal, e segundo ele essa foi a sua melhor


viagem, depois de escutar isso fiquei com vontade de ir para lá. Era


estranho que ele parecia conhecer muito sobre a cultura dos indianos,


quando ele falava tudo fazia sentido! Queria que ele ficasse mais


tempo aqui, mas descobri que essa era sua última semana.


No dia seguinte acordei as 5h da manhã e comecei a procurar


informações sobre minha viagem, peguei o Lonely Planet, ou como os


mochileiros falam, “O Livro”. Esse era o guia de todos os viajantes na


Índia, e eu tinha conseguido sua versão digital na minha conversa na


noite anterior. Depois de umas duas horas eu já havia planejado minha


viagem e os Nigerianos acordaram, desci para tomar café da manhã. As


duas mulheres da casa já estavam acordadas e eu comi uma panqueca fria


(comida típica da Índia) e um pão que não era dos melhores.


Durante a refeição eu falamos sobre a minha viagem, a filha abriu um


sorriso, enquanto  mãe ficou preocupadíssima e não queria me deixar


sair. Elas chegaram a conclusão que seria um problema porque eu


provavelmente seria enganado, ou seja: no táxi por exemplo eu pagaria


R$1,oo ao invés de pagar 50 centavos... Bom, não pareceu fazer muita


diferença para mim, mas mesmo assim elas disseram que seria bom eu


contratar um guia ou levar o anão nigeriano comigo. Resolvi escolher a


segunda opção.


Seu nome era Aluko, ele perdeu seu pai ainda jovem e sua mãe ficou


solteira com 4 filhos e uma filha, acredita com todas suas forças que


as pessoas o estranham porque ele é negro, mas não, é a soma das


coisas: negro num país onde todos têm a mesma cor e por ser muito


baixo. Em três meses irá acabar seu intercâmbio e ele não quer voltar


para a Nigéria, e gostou da ideia de ir ao Brasil, no começo apoiei a


ideia, mas com o tempo vi que ele queria ir sozinho sem falar a língua


e possivelmente sem uma passagem de volta, suicídio, não? Ele me pede


ajuda para isso quase que diariamente.


Ele tinha separado uma quantia para vir a Índia, juntamente com seu


salário ele teria como sobreviver: o plano parecia bom, mas começou a


dar errado ainda na Nigéria. Ele não tinha colocado em suas contas o


preço do visto, que ficou com uma situação ainda pior pelo fato de ele


ter pegado o de negócios (que e bem mais caro). Chegando aqui não


havia emprego para ele como o prometido e agora ele está sem dinheiro


e sem trabalho, passa o dia todo trancado dentro de casa comendo pão e


as vezes um macarrão.


Voltando à viagem, eu comecei a me organizar, fiz a minha mala, o papa



Cansei de escrever sobre esse dia, quem sabe um dia eu termino...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Gay PUB


Acordei no dia seguinte e a minha primeira visão foi a de um anão negro passando na minha frente, tentei não parecer impressionado (inutilmente), ele veio me cumprimentar, seu nome era Fimi. Desci e minha mãe me fez um chá como de costume, depois de procurar minha escova por quase uma hora na mala, Crown, o Nigeriano normal (não o anão) viu minha situação e resolveu me ajudar com uma nova escova. Depois disso fiquei sem ter o que fazer e resolvi ligar para o Rohan, que é a pessoa da AIESEC responsável por mim, ele me disse que ele passaria a 1h aqui para me levar para trocar dinheiro, resolvi esperar.
Entrei no Face e quando desci as pessoas da casa estava comendo macarrão, como eu não estava com fome resolvi esperar. Quando a fome chegou eu reparei que já tinha acabado o macarrão, e quando perguntei o que tinha para comer eles me responderam que tinha chapatti, um pão indiano que parece com uma panqueca. Todos nós sabemos que a maior parte dos indianos são vegetarianos, certo? O que não sabemos é que eles sobrevivem desse pão com geleia! Com isso cheguei a conclusão de que terei que ir comer fora de casa vários dias para continuar saudável.
Como o Rohan não chegou, lá pelas 3h eu e o Crown Resolvemos ir para a cidade, quando estávamos saindo meu amigo indiano chegou de moto e me levou trocar dinheiro. Descobri que quando falamos que o brasileiro não se compromete com o horário é porque não conhecemos os indianos. No caminho eu descobri como os brasileiros dirigem mal, ele dirigia num lugar caótico olhando para traz e não batia, eu tenho certeza que tem algum tipo de maga que protege os indianos no trânsito!
Chegando lá, eu resolvi trocar US$300, ao entregar o dinheiro, o Rohan e o balconista começaram a discutir sobre a taxa de câmbio, que mudou radicalmente após um tempo (quase dobrou o dinheiro). Ao receber o dinheiro, foi dado a quantia errada umas 3 vezes antes que pudéssemos sair de lá. Como eles já me disseram aqui, nunca confie em um indiano!
Voltando para casa, Rohan foi embora e eu e o Crawn fomos à cidade, saímos de casa e andamos uns 400 metro até que passou um autorishew, um triciclo/moto que estava caindo aos pedaços, Crown fez um sinal e ele parou. Lá dentro devia ter umas 6 pessoas, todas espremidas, minha surpresa foi que depois de trocar algumas palavras com o motorista ele me disse: sobe. Eu quase que não acreditei, mas subi e andamos durante uns 20 minutos até chegar na cidade. Ao sair pagamos 10 rupies cada (R$0,27).
Lá nós passeamos um pouco na estação de ônibus e depois de um tempo fomos ao Chocolate’s place. Entrando lá era um lugar quente e com um cheiro muito forte e bom de chocolate. Entramos e sentamos em um sofá, quando o garçom chegou ele pediu para falar com o gerente. Eu sem entender muita coisa comecei a olhar o cardápio, um chocolate com menta parecia o ideal.
Quando o gerente chegou, o Nigeriano começou a falar sobre a franquia e se ofereceu para trabalhar á de graça para aprender sobre o negócio e assim abrir uma coisa similar em seu país. O dono do lugar gostou muito da ideia e começou a falar sobre seus plano e sobre a situação financeira do lugar.
[Quem não tiver estudado Marketing pule esse parágrafo] Ele começou a falar que o lugar não estava dando lucro e que ele estava pensando em mudar o posicionamento e começar a vender mais comida. O lugar era extremamente bonito (coisa rara aqui na Índia), era aconchegante e tinha um cheiro bom, mas por que não dava certo? Já que eu estudava Marketing eles me perguntaram isso, com sono e confuso pelo inglês eu respondi que era um problema do posicionamento de Relações Públicas, que as pessoas não iam lá porque não sabiam quando ir lá, na hora todos concordaram comigo, mas agora eu acho que o problema é a localização, ele fica em um centro comercial caro e sem muita gente passando... acho que deveria estar em um Shopping ou algo assim. Bom, eu provavelmente vou postar fotos, preços e tudo mais porque eu me interessei pelo negócio.
O chocolate de menta chegou, era gelado e muito bom, parecia um frozen mas era muito melhor. O copo também era diferente, era de cerâmica com um canudo grosso. Na hora de sair paguei 20 rupies (R$0,55) e sai. Depois fomos para o KFC, no caminho passamos por um grupo de meninas estrangeiras, depois que passamos Crawn me perguntou se eu vi, respondi que não, olhei pra traz e não tive duvida, fui falar com elas numa tentativa de quebrar meu celibato indiano.
Começamos a conversar, e uma vez que éramos os únicos estrangeiros da cidade não foi difícil, depois de mais ou menos um minuto eu reparei que tinha que encontrar com elas de novo, pensei um pouco e mudei a estratégia clássica, ao invés de pedir o telefone eu iria às chamar para ir ao único PUB da cidade. Depois dessa longa reflexão, quando eu fui abrir minha boca, uma delas falou puxando às outras: temos que ir, temos que ir! Foi assim que eu perdi a minha grande chance com alguma menina na Índia. Ficamos nos roendo de raiva e resolvemos ir beber um pouco.
Chegando  lá, entramos num bar muito bonito, sentamos e um homem que não falava inglês direito me chamou, eu o segui e ele me falou que eu só poderia entrar lá com uma prostituta, o que eu achei muito estranho já que não havia sequer uma mulher lá dentro. Sem saber ao certo se nós tínhamos entendido direito, fomos até o PUB e eu entendi porque eles chamam de gay PUB, como às mulheres não podem sair de casa, o PUB era cheio de homens. Isso me deu enjoo mas como não havia outra opção resolvi pegar uma cerveja. Depois de uma hora pegamos outro triciclo e voltamos para casa.

domingo, 12 de dezembro de 2010

A primeira Casa


Cheguei perto de meia noite na casa, estava frio. Agente entrou em uma zona proibida militar (eu acho q o pai do menino que estava aqui é militar), não era muito rica, mas era muito interessante, pois tinha até comércio! Chegamos a um portão de ferro, o carro parou e Rohan desceu dele.
Entrando na casa tomei meu primeiro susto, havia duas mulheres em uma cama logo na porta. Dois homens que pareciam americanos vieram me receber, depois descobri que um era Nigeriano e o outro era da Bósnia. No quarto seguinte a TV estava sintonizada em um jogo de futebol europeu, era o Arsenal jogando com um outro time que eu não me lembro, neste quarto tinha mais uma cama de casal. Meu Budy, Rohan foi embora.
-Você quer tomar banho? Me perguntou o Nigeriano. Eu respondi que sim, então ele foi ao fogão e colocou água para ferver. O loiro foi me mostrar meu quarto, chegando lá vi que era uma enorme cama de casal, deixei minha mala lá. Depois de um tempo conversando com os outros intercambistas, que por sinal falavam um inglês perfeito, fui tomar meu banho.
Chegando ao banheiro tive o maior choque da viagem e não tinha pia, não tinha chuveiro que funcionasse. O que tinha era uma privada o meu balde de agua quente e uma torneira. Quando eu fui entrar o nigeriano me deu um chinelo falando que eu ia precisar. A água estava quente de mais, então eu abri a torneira e esperei um tempo, minha surpresa foi quando acabou a água fria... Começei a esfriar a água assim como nossas avós esfriam um leite quente, jogando a agua de um balde para o outro. Demorou mas consegui tomar o banho.
A duvida seguinte foi: como escovar os dentes se não existe uma pia? Depois de um tempo pensando resolvi perguntar ao intercambista mais velho (o da Bósnia), ele me respondeu que era pra eu escovar os dentes com a torneira que ficava quase ao meu pé e cuspir na privada! Foi o que fiz.
Depois ficamos conversando sobre filmes estrangeiros e ele me falou várias coisas interessantes sobre a cultura indiana. Já estava tarde, ele foi dormir e eu fiquei escrevendo o blog. Na hora de dormir havia um grosso tapete para eu usar como cobertor, achei que seria péssimo mas não, era quente! Esperei dois minutos e já estava dormindo.

Primeiros contatos


 Dentro do ônibus não parecia nada com o que eu tinha lido, havia ar condicionado e uma suspenção quase boa: não sai dolorido como eu esperava. O problema era o frio, sem casaco eu estava congelando, perguntei a um indiano com turbante vermelho sobre onde estaria minha mala, um canadense que estava com ele me respondeu que daria para pegar numa parada em um hotel.
Um rapaz que estava perto de mim estava falando sem parar e eu já estava achando que eu entendia o hindu, quando comecei a tentar conversar com ele descobri que ele só sabia falar italiano, então tentei parlar um pouco, mas tudo que consegui foi hablar.
Um pouco antes do ônibus parar, o Homem com turbante salvou minha vida, pediu para que desligassem o ar. Na parada eu conversei com o canadense que estava lá para um casamento. Ele me pediu um chá que salvou minha vida, quente e muito bom! Ele também desmitificou muita coisa sobre a água, a comida e algumas outras coisas. Na volta a estrada o motorista não queria me abrir o porta-malas, mas quando o Canadense flou com ele em Hindú tudo ficou mais fácil.
            Quando ficou escuro eu reparei que a iluminação pública era quase nula, e que no meio do nada podia ter enormes casas para turistas,  queria entender da onde saem tantos para sustentar esses palacetes. A estrada foi melhorando com o tempo, comparada ao Brasil, ela é muito lisa, mas nem sempre é asfaltada. A musica do ônibus é bem dessas de filme, com pessoas cantando com voz tremula e instrumentos antigos e tambores ambientando: nada que um fone de ouvido alto não desse conta.
            Paramos mais uma vez, são quase 8 da noite e eu ainda tenho um bom tempo de viagem, parece que o motorista não sabe ao certo para onde esta indo. Meu amigo foi embora e me deixou um cartão pedindo para eu ligar para ele. Na parada tinha um telefone por satélite, um restaurantezinho e um clássico banheiro indiano: muitos mictórios e algumas portas, como eu estava com a pouchete por debaixo da roupa, resolvi ir na privada. Quando abri a porta vi o que já tinham me falado, um buraco coberto de cerâmica, uma torneira e um baldinho, tudo isso funciona com uma descarga. Depois de ver isso fiquei com receio de pisar e principalmente de tocar na torneira para lavar as mãos, mas como não tinha jeito eu fiz as duas coisas.

            Na volta eu tentei falar italiano com um indiano que trabalhava na Itália. Descobri que ele era gay e morava com seu marido lá. O fato dele estar naquele país me explicou o porque de haver 2 outros italianos no ônibus, sendo que nenhum dos dois falavam em inglês nem híndi.
            Depois de mais ou menos 10 horas eu finalmente cheguei, a meia noite do dia 14 (4 dias de viagem), Rohan foi me buscar com sua família: seu pai e sua irmã. Depois de ter errado o caminho, chegamos a minha primeira casa.
 

O Voo


A viagem começou, coração apertado pois descobri somente ao entrar no avião que  passaria tanto tempo sozinho. Após um tempo, uma senhora negra sentou ao meu lado, ela não falava em inglês e não parecia ter cara de muitos amigos. As aeromoças começaram a passar e perguntar o de sempre: carne ou frango?  Vendo a situação da senhora, eu a ajudei a pedir sua carne com espaguete, muito agradecida ela começou a falar comigo. Descobri que ela era escritora e que fazia parte de vários movimentos contra o preconceito.
Chegando a Johanesburgo me separei dela e fui ver os muitos dutty-frees que havia no local, entediado comecei a algumas pessoas que estavam passando (logicamente em português) mas reparei que sem alguém como a Andressa pra me falar para parar não tinha graça nenhuma. Merda! Estava lá eu sozinho e sem ter o que fazer, ou seja: a pior coisa que pode acontecer num intercâmbio.
Resolvi que iria falar com alguém, reparei que um homem de uns 30 anos conversava ao celular em português, dei uma volta e depois sentei-me ao lado dele e agradeci em português e propositalmente me corrigi falando thank you. Depois da “coincidência” de nós dois sermos brasileiros, eu já não estava mais sozinho, conversava com ele, sua mulher e seu filho, pena que durou pouco e depois de meia hora eu já estava com os fones de ouvido outra vez.
Foi ai que descobri como passar o tempo, o Haguendaz não iria me decepcionar! Foi muito bom durante os 10 minutos que demorei para comer uma bola, mas acabou. Desisti, fiquei sentado e jogando no celular, foi nesse ponto que a senhora negra do voo me encontrou e começou a conversar comigo. Depois e um tempo ela me deu um de seus livros e autografou! Fiquei muito feliz mas estava com fome e fui comer alguma coisa.
Para não ter erro pedi uma pizza, era muito boa! E eu que pensava que a brasileira era a melhor do mundo, lá eles simplesmente esqueceram da massa e encheram de recheio. Depois de um tempo, uma menina que estava comendo comigo me perguntou que horas eram, eu respondi e sai correndo para o embarque, que já havia começado.
O voo foi sem surpresas e silencioso pois apesar dos esforços, o homem que sentava ao meu lado não dominava bem o inglês, foi meu primeiro problema com a língua, antes mesmo de chegar lá. O que me impressionou foi ele ter um Orkut, ele escreveu seu nome e me pediu para adiciona-lo depois, mas quando tentei havia milhares de pessoas com o mesmo nome.
No hotel de Mumbai, eles demoraram uma eternidade para chegar, enquanto esperava reparei que as pessoas não paravam de buzinar, era infernal!!! Depois de um tempo já dava pra perceber porque buzinavam, toda vez que passavam ou queriam passar buzinavam, buzinavam até para virar, utilizavam como seta.
Chegando no “Airport Hotel”, depois de uma hora de espera, eu perguntei qual hora eu deveria sair, ele me respondeu que eu poderia tomar café e sair. No dia seguinte acordei, arrumei tudo e tomei o café o mais rápido possível. Comi alguns sanduiches prontos e uma melancia, mas estava com sede: o que beber? Resolvi perguntar para o garçom se o suco era feito com agua da torneira ou do filtro, ele me respondeu que não, com o coração na mão eu tomei metade do suco. Ao sair perguntei para o recepcionista sobre como era feito o suco, ele me respondeu uma palavra que eu não conhecia, minha vontade foi de vomitar!!! Felizmente depois de conversar mais descobri que o suco era de caixinha, minha barriga estava salva por mais um dia.
Na saída, o trajeto que deveria ser de 3 minutos, segundo eles, demorou um pouco mais que dez e com isso cheguei depois da hora estipulada. Perdido num país que “fala inglês”, pedi ajuda para um homem que parecia estar no comando, ele me botou num novo voo. Na corrida contra o tempo perdi a primeira coisa: meu fone de ouvido laranja que eu comprei no Duttyfree.
Num balanço do que eu vi que me chamou a atenção, certamente estaria as buzinas e a prestatividade das pessoas, todos parecem estar te servindo, quando perguntei para um rapaz que estava fechando sua loja sobre como entrar no WI-FI, ele não só parou o que estava fazendo como também entrou no meu computador e logou por meio de seu celular! Eu acho que isso nunca aconteceria no Brasil....
No último voo, que era de uma companhia indiana, eu comecei a ter um maior contato com a cultura, primeiro tomei um café apimentado, que como estava no avião, acredito que eles tenham pegado mais leve com o chilly. Na TV passava um filme indiano: péssimo! Exemplos clássicos, atuações extremamente ruins e sons da década de 60, no meio do filme todos cantavam e dançavam, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. A historia também não era muito boa, era sobre um garoto com uma inteligência mais simplificada (que eu me identifiquei muito), ele ia contra o sistema mas um professor reprovou ele por não floriar e tentar melhorar o ensino. Como o filme estava chato resolvi dormir, já que eu estava quase sozinho no avião, peguei 3 cadeiras.
No caminho para buscar minha mala comecei a conversar com uma francesa que estava voltando para casa, ela me deu umas dicas sobre a comida e agente começou a conversar numa fila, depois de muito tempo ela me perguntou: por que você esta na fila para conexão? Eu olhei para cima, dei um sorriso e sai. Estava perdido.
Desci uma escada que levou a um salão gigante cheio de pessoas, um bafo quente veio a minha direção, o Ipod, que estava no shuffle, começou a tocar “Welcome to the Jungle” do Guns, sim, eu cheguei à Índia! Peguei uma das enormes filas, fui até o fim e descobri que eu não precisaria pegar fila alguma, meu voo era doméstico.
Saindo dali perguntei para uma pessoa aleatória sobre o ônibus, por sorte ele era o responsável. Sentei perto de um casal de alemães que estavam com duas mochilas gigantes na frente deles. Depois de conversar um pouco com eles, vi que o ônibus estava saindo, corri e cheguei a tempo.